quarta-feira, 1 de abril de 2015

AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dr lida sentem bem
Não as duas que ele teve,
Mas só as que ele não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


(Fernando Pessoa)

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