sábado, 1 de agosto de 2015

O VERME


Existe uma flor que encerra 

Celeste orvalho e perfume. 

Plantou-a em fecunda terra 
Mão benéfica de um nume. 

Um verme asqueroso e feio, 
Gerado em lodo mortal, 
Busca esta flor virginal 
E vai dormir-lhe no seio. 

Morde, sangra, rasga e mina, 
Suga-lhe a vida e o alento; 
A flor o cálix inclina; 
As folhas, leva-as o vento. 

Depois, nem resta o perfume 
Nos ares da solidão... 
Esta flor é o coração, 
Aquele verme o ciúme. 


(Machado de Assis)

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