sábado, 17 de outubro de 2015

O Homem Duplicado (José Saramago)


O HOMEM DUPLICADO (2002) é aquele tipo de livro que vale ler do começo ao fim.  Não que outros não valham, mas, este, especificamente, parece que insiste para que nós, leitores, o abandonemos.  O roteiro aparentemente comum do começo da história nos decepciona, mas a guinada que acontece nela garante a leitura completa. 

A premissa que parece simples vai se estruturando de maneira que prendeu minha atenção que eu não consegui parar de ler. Imagina se você descobrisse que tem um sósia, alguém que é o seu retrato fiel, o mesmo rosto, o mesmo corpo, a mesma voz? Na sua cidade moram cinco milhões de pessoas, normalmente o óbvio é não haver duas iguais, embora, esclareça-se desde logo, esta história não é ficção cientifíca. Não tem clones humanos gerados no laboratório de um cientista louco. 

Um professor de história chamado Tertuliano ao ver um filme indicado por um colega de trabalho se depara com um figurante idêntico a ele, deixando-o muito intrigado, então ele arruma outros filmes da mesma produtora para ver se consegue descobrir o nome do ator.Depois de muito trabalho Tertuliano descobre que o nome do ator é Daniel Santa-Clara e começa a busca frenética para localizá-lo.

A partir daí o dia a dia do professor muda. Máximo Afonso fica extremamente curioso para descobrir quem é o ator, se eles realmente são iguais, de onde surgiram etc. Começa, então, a busca incessante por filmes com o mesmo ator. Dias sem dormir, aulas mal dadas. Tudo isso para saber quem é o sujeito que se parece tanto com ele. Num filme, descobre o nome do ator: Daniel Santa-Clara.

Então o professor descobre onde o ator mora. E descobre que o nome dele não é aquele, e sim: Antonio Claro.  O professor entra em contato com o ator, e a partir daí a vida dos dois se confunde: a curiosidade surge em Antonio Claro que, inicialmente, não havia se importado com a ligação e ele é quem fica curioso para saber quem é o homem que se parece tanto com ele.

O livro é fantástico! Revela o sofrimento de um indivíduo sufocado por conflitos psicológicos com dificuldade de perceber as diferenças entre o real e o imaginário. Mostra, na forma literária, sem se ater a estudos aprofundados da psiquiatria o quanto a mente é capaz de criar situações inimagináveis, conflituosas e devastadoras da felicidade.


Em toda a narrativa, encontramos trechos recheados de significado e de uma verdade nem sempre explícita, o tipo de passagem que dá vontade de copiar para reler depois. As conversas de Tertuliano Máximo Afonso com o “senso comum” e as referências à mitologia enriquecem a história e, ao juntarmos aí a astúcia com que o enredo foi conduzido, o resultado só pode ser um livro surpreendente. 
Se isso ainda não lhe despertou a curiosidade, vá por mim: leia o livro. O final é arrebatador e vai fazer você ficar pensaando por muito tempo!


CICERO[N.C.S]
17/10/2015

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